Birras e manhas :|
- Adriano Oliveira
- 19 de dez. de 2017
- 7 min de leitura
É preciso entender que a birra faz parte do desenvolvimento e elaboração do mundo das crianças. Para os cientistas, o comportamento raivoso e choroso tem relação direta com o desenvolvimento do cérebro dos pequenos. A birra é desencadeada pela ativação de áreas primitivas do cérebro, que pode ser causada por medo, angústia ou separações bruscas, seja de uma pessoa, de um objeto ou de uma situação. A birra nada mais é do que pura emoção no comando de uma situação que desperta insegurança na criança.
Para lidar com essas situações, o recomendado pelos neuropediatras é que o adulto coloque a racionalidade da criança para funcionar, desviando sua atenção para outra coisa ou explicando o porquê daquilo que ativou o acesso de birra. Por exemplo, se a criança ficou agressiva ao ser informada que era hora de ir embora do parquinho, é preciso explicar por que ela precisa ir para outro lugar e despertar interesse pela experiência seguinte, traduzindo em palavras acessíveis à criança os sentimentos que ela ainda não consegue nomear. Muitas vezes, pais e cuidadores sentem-se exaustos e estressados com os comportamentos de seus filhos, como: choro, crises de raiva e birra em diversos momentos do dia (ida para escola, momento de tomar banho, refeição, ir para a cama). ➡ Em algumas situações, os comportamentos dos pequenos são interpretados de modo errôneo, vistos como manifestação de má vontade, insolência, falha moral e, por consequência disto, os pais/cuidadores acabam se culpando e acham que não são bons pais. ➡ Acontece que existem comportamentos que realmente não são fáceis de lidar, mas a verdade é, são NORMAIS, naturais da idade em que os pequenos estão vivenciando. É essencial saber discernir quando um comportamento agressivo é passageiro, por motivos temporários, como o nascimento de um irmãozinho, a hospitalização ou perda de um ente querido, ou ainda por mudança de casa ou escola ou se pode ser considerado como um transtorno de conduta, caso em que é necessário um acompanhamento de especialista para auxiliar a sanar o problema. Precisamos também diferenciar as vivências que a criança tem na família e as que têm na escola, onde ocorrem geralmente os comportamentos agressivos. Em casa, via de regra, a criança é sempre querida, amada e compreendida, o que não acontece no convívio social onde precisa conquistar os amigos e inserir-se no grupo. Lembre-se: a agressividade só deve ser tratada como um desvio de conduta quando ela aparecer por um longo período de tempo e também se não estiverem ocorrendo fatos transitórios que possam estar causando os comportamentos agressivos. É preciso observar, tirados aspectos transitórios, se a criança: - Sempre teve, por parte da família a realização de todas as suas vontades, fato cada dia mais comum, quando ambos pais trabalham fora e sentem-se culpados por ter pouco tempo disponível para o filho e acabam “tentando” suprir esta lacuna com permissividade excessiva, sem impor limites. - É muito exigida e pouco elogiada. A criança acaba perdendo parâmetros, pois mesmo fazendo o máximo para acertar, ainda é pouco para o grau de exigência dos pais ou professores. - Tem dificuldades em relacionar-se com outras crianças, mantendo-se afastada do grupo. Foi vítima de alguma agressão ou abuso. * Este material informativo traz exemplos e dicas de como lidar com crianças de 1 a 5 anos, quando elas expressam: - Birra; - Ataques de raiva; - Manha; Podemos classificar o desenvolvimento cognitivo em diversas etapas. Na educação infantil, passamos basicamente por duas delas. A primeira é a fase que vai do nascimento aos dois anos de idade, quando a criança se utiliza basicamente dos sentidos para conhecer o mundo. Tudo aqui acontece por reflexos e a criança leva tudo à boca. De 1 ano a 1 ano e meio: ➡ Bem antes dos filhos, os pais acabam entrando na “fase do não”. Birras, manha e ataques de raiva:
COMO LIDAR?
Uma criança de 1 ano toca em tudo ser ter consciência do que é permitido e nem do perigo que determinados objetos podem provocar. Nesta idade, ela não entende o conceito de regra. Antes de tudo, é mais seguro manter os objetos que causam perigo longe do alcance dos pequenos. Dica: é melhor dizer “pare” ao invés de dizer “não”. ➡ Quando você diz “não”, provavelmente franze as sobrancelhas. Ao dizer “pare” você abre os olhos e o tom é imperativo, sem ser crítico. ✅ É natural que as crianças busquem olhar nos olhos, procurando autorização dos pais, antes de encostar em um novo objeto. É o momento de dizer “pare” e depois você pode explicar com palavras simples a proibição. De 1 ano e meio a 2 anos: ➡ É um momento em que a criança se depara com seus próprios limites. Seus pensamentos são mais rápidos que sua capacidade de falar, por isso, choros, gritos e mordidas tentam transmitir as emoções que os pequenos estão sentindo. A criança não quer se opor, mas sim mostrar que tem suas vontades e desejos. Dica: Evite dar ordens! Dê informações. ➡ Permita que a criança também possa decidir, mesmo que seja por algo pequeno. Isso possibilita que ela reflita. Lembre-se: nem pensar que ela decida sobre tudo, é claro! Os limites também são importantes para o bom desenvolvimento dos pequenos! O que pode ser feito quando a criança chora? ➡ Demonstre empatia! É mais eficaz do que consolar. Quando a onda mais forte passar, você pode dirigir a atenção dela para outra coisa. Quando a emoção é intensa, você pode intervir dando colo. Isto fará a criança sentir-se amparada, o que a fará acalmar-se. Uma criança que morde o amiguinho até por volta dos dois anos de idade, não pode ser rotulada como agressiva. Ela ainda não sabe usar a linguagem verbal e a linguagem corporal acaba sendo mais eficiente. A criança nesta fase é egocêntrica e acredita que o mundo funciona e existe em função dela. Uma das primeiras maneiras de relacionamento é a disputa por objetos ou pela atenção de alguém querido – como a mãe, o pai ou o professor. A intenção da criança, ao morder ou empurrar, é obter o mais rápido possível aquele objeto de desejo, já que não consegue verbalizar com fluência. Esta fase de disputa é natural e quanto menos ansiedade for gerada, mais rápida e tranquilamente será transposta. É claro que o adulto não deve apenas assumir a postura de observador e sim, interferir quando necessário, evitando que se machuquem, e explicando que a atitude não é correta. Enfim, impondo limites! Porém não devem supervalorizar a agressão, pois as crianças ainda não conseguem entender que estão machucando. A segunda fase do desenvolvimento cognitivo vai dos 2 aos 7 anos, é quando a criança começa a adquirir noções de tempo e espaço. Ainda não há raciocínio lógico e as ações para ela ainda são irreversíveis. De 2 anos a 2 anos e meio: ➡ Nesta fase, a criança não sabe falar “quero colocar as calças antes das meias”, e ela simplesmente grita. Alguns rituais são tratados pelos pais como birra, mas na verdade, a criança está criando suas imagens mentais acerca do mundo que a cerca. Elas buscam entender como o mundo funciona. Dica: Criando rotinas você evitará muitos conflitos. Para os pequenos, a rotina torna-se prazerosa. Criando uma rotina, facilitará as idas á pracinha, ao supermercado (uma vez no balanço, apenas um doce pode escolher, etc). Lembrete: Os rituais são normais para as crianças durante um período, porém, se eles se tornarem pesados demais ou persistirem por muito tempo, é importante buscar auxílio. Seu pequeno não quer dormir? Dica: proponha (no momento certo) o início da rotina (“colocar o pijama, escovar os dentes, a história...), do que o fim dela (“já para a cama”) – um atalho ao qual ela pode se opor, por não ter sido preparada.
De 2 anos e meio a 3 anos: ➡ Logo após a criança passar pela fase do “não”, chega a fase do “SOZINHA” – a criança quer experimentar aquilo de que é capaz. ➡ Ela quer se vestir sozinha, comer sozinha, etc. Ao fazer as coisas no lugar dos pequenos, você lhe tira a possibilidade de exercer suas novas competências motoras e a alegria da conquista. Então ela se revolta. Dica: Muitas vezes a criança só precisa ter seu desejo reconhecido; Neste sentido, não hesite em discutir/dialogar as regras. Questione o que ela está querendo fazer. Lembrete: Esta é uma fase em que a criança costuma voltar atrás nos seus desejos, mas é algo natural. Então, respire fundo! ❤ Por volta dos três anos, as crianças já acrescentaram milhares de palavras ao seu vocabulário e começam a descobrir o prazer em brincar com o outro e se comunicar. O egocentrismo começa a sair de cena e começa a socialização. Nesta fase, o comportamento agressivo intencional, ainda aparece esporadicamente e via de regra, não apresentam uma continuidade. Já aos quatro, cinco e seis anos identificamos alguns comportamentos de discriminação que podem ter repetidamente o mesmo alvo. A personalidade da criança forma-se até os seis anos de idade e por isso, toda experiência e sua qualidade vividas nessa fase é de fundamental importância. Por mais que, às vezes, possa parecer ineficaz, elogio, afeto, prazer e compreensão tem resultados muito mais rápidos e menos estressantes do que bronca, castigo, sofrimento e indiferença. É muito importante detectar e combater o comportamento agressivo ainda na primeira infância, pois quando criança não encontra obstáculos ou alguém que a alerte mostrando que não é um comportamento adequado, ela percebe que consegue liderar e tirar proveito destas situações, podendo haver consequências ruins na vida adulta. Lembre-se: Existem idades previstas para que a criança se desenvolva em determinado aspecto, existem diretrizes, mas isso não quer dizer que a criança seja “anormal”, cada criança tem seu tempo. A ansiedade dos pais, a cobrança e as comparações acabam não sendo saudáveis nem para os pais e nem para as crianças. Esses sentimentos costumam se intensificar em pais de primeira viagem, mas deve-se sempre ter em mente que cada um se desenvolve conforme seu tempo, é preciso respeitar isso e procurar tranquilizar-se. Quando houver dúvidas em relação aos comportamentos da criança, procure um psicólogo. Identificando e trabalhando com o problema, evitamos que a criança e seus cuidadores sofram.
! Este material é meramente informativo, não substitui o acompanhamento oferecido por um profissional da área.
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